Parado! Isso é um sequestro




Parado! Isso é um sequestro

Foucault diz que instituições como escola, igreja, prisão, manicômios e etc. São instituições de sequestro ou seja retiram um sujeito da sociedade e reformula esse sujeito. Bora analisar, o que a igreja faz? Te introjeta normas e te reformula tornando um “sujeito melhor”. O que a escola faz? Te introjeta normas para melhor lhe preparar para a sociedade. Prisão? Prepara um sujeito para estar de acordo com as normas sociais. Manicômico? Te “cura” para se adequar a “normatização” social ( quer normatizar sujeitos para viver numa sociedade profundamente doente). Hospital? Te cura para lhe reabilitar, para viver numa sociedade (sociedade essa que está profundamente enferma). Asilos ? “te protege” da vulnerabilidade social (onde sabemos que violências ocorrem em grande parte dentro das próprias instituições, a começar pelo nosso discurso).

Quando eu digo que sou contra a todas essas instituições, uso o argumento que isso afere a liberdade humana. A escola sim, afere a liberdade, pois ela impõe o que eu devo aprender e ai de quem discordar das normas da escola que é logo tido como marginal, rebelde e por aí vai os adjetivos. Digo isso, porque estagio numa escola e o que eu mais escuto é “fulaninho é rebelde, indisciplinado e não respeita as REGRAS” (ou “não quer nada com a vida”). Prisão não recupera ninguém, são poucos casos de pessoas que realmente saíram recuperadas sem falar o que essas pessoas tem que passar para saírem “recuperadas”, muitas são obrigadas a seguir uma religião para ter a pena amenizada. Ninguém crer em Deus sendo imposto! Manicômios piorou, pois muitas pessoas são jogadas em manicômios, basta ler o livro o Holocausto Brasileiro, que você verá que ate quem discordava do governo era jogado em manicômios. Sem falar que para tornar o centro do Rio de Janeiro um lugar das elites, na época, eles jogaram muitos mendigos em manicômio. Então quando chegarmos em uma clinica psiquiátrica, não se espante se você encontrar pessoas mais normais do que eu você.

O que eu venho percebendo é a glamourização pelos asilos. Realmente existem asilos que não praticam a violência física, mas eu vou além, violência é poder – e poder existe ate no nosso discurso. A nossa fala é instrumento de poder e poder é uma forma também de violência simbólica. Talvez em um asilo os idosos tenham total acesso a recursos e não sofram nenhum arranhão, mas so o fato de estarem uma instituição “afastados da sociedade” sim já é uma violação de sua condição humana. Por mais que esse idosos estejam em contato com voluntários, estagiários, médicos bem preparados e etc. Ate quando a gente é privado de estar em contato com a diferença social, isso também é uma violência simbólica. Ser humano tem que estar em contato com toda a diversidade que possa existir, não deve viver como se estivesse em uma bolha.

Essa semana vi num programa de TV, que o filho disse a mãe que ia manda-la para um asilo. Você pode me perguntar: “Mas Jéssica você quer que todos os asilos fechem?”. Sim, se possível eles nem deveriam terem sido criados. E muito preocupa essa fetichização pelas clinicas de lucho onde isolam as pessoas. Clinicas de estresse, clinicas de reabilitação e asilos ou casas de repouso me causam calafrios. Arrepios na coluna vertebral. O ser humano não pode ser privado, ele não pode ser posto numa bolha de isolamento ou numa redoma de vidro. A minha critica é, pois a gente se considera normal e classifica alguns como doente e outros como frágeis, onde, nós normais, muitas vezes estamos pedindo socorro.

Classificamos o dependente químico como doente, mas  é a gente que é viciado em sexo, em compras, em comida, em café, em cigarro e por aí vai a lista de vícios e uso de substancias licitas (a começar pelo álcool, é só ver as estáticas das mortes de trânsito). Chamamos o idoso de frágil mas a gente não aguenta a dor da rejeição, a perca de um amor, a reprovação de um projeto e etc.

O doente do hospital a gente trata como tadinho, onde esse sentimento de pena muitas vezes mata mais que a própria doença. Alienamos nossos jovens pois tentamos classificar eles, ou seja, definimos que profissão devem seguir e aconselhamos a escolher a profissão que tenha o maior salário, ninguém leva em consideração a vocação. E a alienação é tanta que a aprovação numa prova alienante que é o vestibular, ainda assim vira instrumento de soberba: “Passei em medicina”, como se a aprovação fosse garantia de sucesso.  Temos mestres e doutores sábios de ciência e mendigo da vida, ate que quando a gente senta no banco da praça no centro da cidade, descobrimos que o mendigo da rua entende mais de filosofia do que nossos mestres.

O que eu quero dizer é que antes da gente olhar para alguém com aquele olhar “segura a bolsa que lá vem marginal”, olhe para si, olhe para dentro de casa e se pergunte quem é o marginal de verdade? Se pergunte quem é o frágil, o doente e o viciado? Não enxergue apenas o que seus olhos lhe mostram, talvez a gente encontre loucura em nossas casas, igrejas, escolas e hospitais do que nos verdadeiros manicômios. Você não é normal, não existe isso de ser normal. Quanto você tira todos os seus rótulos quem você é de verdade?


Jéssica Cavalcante

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